segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Tariq Ali é o cara

São domingos como este que nos fazem acreditar que nem tudo está perdido e que a humanidade ainda tem jeito. Depois de assistir a gloriosa atuação do Botafogo em Salvador, quebrando o jejum de oito jogos sem vencer, nada como encerrar o dia vendo e ouvindo o escritor paquistanês Tariq Ali dando uma aula de humanismo, cultura, política, relações internacionais e, sobretudo, uma aula de vida. A entevista foi ao ar pela Rede Tv, no programa do jornalista Kennedy Alencar e é uma prova que mesmo lá pela uma da manhã, ainda pode haver vida inteligente na telinha. Ali falou da sua militância de esquerda, desde os anos 60, da convivência com Jonh Lennon e Mick Jagger, do seu exílio em Londres, da volta a terra natal com o fim da ditadura, da sua conversão em escritor renomado no refluxo dos anos 80. Falou também de seus livros, mas, principalmente, desancou Obama e sua política externa continuista, incapaz de resolver o impasse no Oriente Médio, onde Israel, sob as bênçãos norte americana continua impondo sua política fascista aos palestinos. Ele, inclusive, duvidou das reais intenções de se estabelecer um estado palestino autônomo na região. O resultado dessa política é a desmoralização da Autoridade Nacional Palestina e o fortalecimento do radicalismo e do Hamas. No que se refere ao Irã, embora seja pacifista e crítico do regime dos Aiatolás, fez umm questionamento óbvio, que é preciso ter coragem para se fazer: por que alguns países podem ter bomba atômica e outros não e quem determina quem pode ter. Tariq Ali elogiou, ainda, a política externa independente do governo Lula e quando perguntado sobre o que achava do líder brasileiro ser lembrado para ser Secretário Geral da ONU, saiu com esta: "Seria uma grande bobagem de Lula, pois seria melhor ele ficar no Brasil, fortalecer o seu partido, o PT, como grande partido político do país e continuar sua liderança, ao invés de ser Secretário Geral da ONU, que é apenas uma espécie de mordomo da Casa Branca". Esse é Ali. Esse é o cara.

Madureira pagou mico

Eu que sou um persistente otimista quase entrei num baixo astral ao assistir pela internet a deplorável palestra do "Casseta" Marcelo Madureira num tal Seminário sobre Liberdade de Imprensa, promovido por um tal Instituto Millenium. Inicialmente, por se tratar de um personagem conhecido da turma do Bussunda, contemporâneo dos encontros de estudantes de Comunicação Social, eu na UFF e eles na UFRJ, achei que se tratava de mais uma performance engraçada, uma piada do Casseta. Entretanto, confesso que preferia o Madureira da época dos festivais estudantis, das festas do Diretório Acadêmico, que além de realmente divertido, era muito mais alto astral e falava e fazia o que realmente sabia, ou seja, fazer piada. Logo percebi que ele falava sério e que como mediador do debate estava ninguém menos do que o jornalista Willian Waack. Que tristeza ver o Madureira metendo o pau nos antigos companheiros, comportando-se como donzela arrependida, convertido à social democracia peessedebista. E ainda dizendo ser vítima de censura nas sua piadas televisivas. Engraçado que essa grita pela liberdade de imprensa parte justamente das grandes empresas de comunicação do país, que exercem um verdadeiro monopólio na mídia nacional, e que se acham acima de qualquer suspeita ou de qualquer controle social. Esse debate parece surreal, pois, parafraseando o presidente, nunca nesse país houve tanta liberdade para se escrever, falar e se mostrar o que quiser. O problema é que as vezes a liberdade extrapola para atingir danos a imagem, a honra etc. Isso me fez lembrar de uma entrevista do teatrólogo Augusto Boal, contando que foi preso e torturado na época da ditadura militar, porque havia denunciado na Europa que havia tortura nas prisões brasileiras. Coisa surreal, ele sendo torturado porque havia denunciado a tortura. Essa grita toda da grande imprensa foi radicalizada a partir da realização no ano passado da Conferência Nacional de Comunicação, na qual participaram delegações de todo o país, representando não só várias entidades da sociedade civil, mas também incluindo as representações dos proprietários de emissoras de tvs, rádios, jornais, revistas. Ocorre que numa atitude antidemocrática alguns donos da mídia boicotaram o evento, não mandaram representantes e abriram uma verdadeira guerra contra as deliberações da Conferência. A realização de seminários como o do Millenium, parece ser estratégia para combater a iniciativa popular, legítima, de abrir um debate sobre o papel da mídia, coisa que nunca aconteceu neste país. Mas pelo menos, se eles querem assim, que fosse uma coisa mais séria. O Madureira tem o direito de falar e de fazer o que quiser, inclusive o direito de pagar mico.