terça-feira, 18 de junho de 2013

Muita calma nessa hora

É tanta gente falando tanta coisa que julga entender, que temo a decepção de alguns daqui a pouco. Sim porque uns falam disso, outros daquilo e isso já dá o caráter da coisa: o único consenso é ir protestar contra o que está aí. Claro, existem sentimentos represados, principalmente numa certa classe média que se sente abandonada em seus interesses e projetos, mas isso será encaminhado realmente para um projeto político de mudanças concretas, reais, ou ficará só no sonho e na vontade dos que vão às ruas despejar sua revolta? Será que vai ser assim, sem partidos políticos, sem movimentos, sem bandeiras concretas? Será que está a caminho uma outra sociedade, como alguns creem? Eu acho tudo estranho, porque sempre participei de lutas que tinham objetivos concretos: abaixo a ditadura, anistia ampla geral e irrestrita, diretas já, fora Collor, contra as privatizações. Eu fico preocupado, por exemplo com um certo sentimento udenista dessas pessoas, que me cheira a "marcha da família, com Deus pela liberdade". Esta proibição de bandeiras de partidos, este vazio de projetos. Sim, porque quando se quer tudo, não se quer nada. Quando se é contra tudo, não se é contra nada. Queremos melhor saúde, melhor educação, melhor transporte (tão genérico que parece programa eleitoral de qualquer candidato). Por que então, ao invés dessa generalidade, não defendemos que todo o dinheiro arrecadado com o petróleo do pré-sal seja investido em educação, proibindo, por exemplo, o seu gasto em shows, micaretas e desfiles de carnaval? Por que ao invés do genérico abaixo a corrupção, não lutamos para que o Congresso aprove uma reforma política com a proibição de campanha eleitoral financiada por empreiteiras, bancos, grandes empresas etc.? Aliás, eu queria saber dos manifestantes suas opiniões sobre as quotas raciais nas universidades públicas, se são contra ou a favor da redução da maioridade penal, se são a favor de uma lei de meios, que democratize os meios de comunicação social do país, proibindo, por exemplo, a propriedade cruzada. Enfim, essas questões sim, dão uma boa briga, dignas de tiro, porrada e bomba. Porque isso sim, faria o país avançar, destravar o debate político. Briga boa contra as multinacionais do petróleo, contra o agronegócio, contra os bancos e a especulação financeira, contra os grandes grupos de mídia que monopolizam a difusão da informação. Mas tenhamos esperança, porque desse caos de sentimentos difusos algo pode sobressair.

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